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sábado, 20 de dezembro de 2014

Julgamento Popular



Dia de demonstração de Karaté da mais velha, tudo normal.
Entrámos no carro e aí vamos nós, ela ansiosa eu orgulhoso como sempre.
À chegada, lugar para estacionar mesmo à porta, bem bom, não é para todos.
A meio da manobra de estacionamento, dou-me conta que se calhar não calculei o espaço disponível da melhor maneira, os sensores de estacionamento começam a apitar todos ao mesmo tempo, o carro está numa posição que quer andasse para a frente ou para trás, os avisos sonoros já não se davam ao trabalho de se "calar".
A mais velha já passada (ansiedade, pensava), eu, com falta de lucidez para me ir embora dali, e procurar a tranquilidade de um estacionamento em espinha, que abundava a 30 metros de distância, nããããã, tinha que ser ali.
Ahhhhhhhhhhhhhh, não há almoços grátis. O lugar era bom demais para ser verdade, por esta altura,  seria preciso um numero considerável de manobras ao som de piiiiiiiii, piiiiiiiiiiiiiiii, piiiiii, para que o carro ficasse bem estacionado.
Para ajudar à festa, chega o "Murphy", apercebo-me dum princípio de ajuntamento popular,  a sensação que tenho é que aquele "ruido" não fazia parte do  habitual, torce, torce, distorce...  Que nos é tão típico.
Abri o vidro para confirmar o meu receio, não fosse mesmo alguém estar a ajudar-me no estacionamento e eu a ser injusto com esta minha mania da perseguição.
Oiço as primeiras palavras da simpática senhora sentada no muro mesmo ali ao lado, "...como ele tem muito, pensa que não custa aos outros.", demorei uns segundos a encaixar aquele comentário, tanto que já me lembro dos que vieram a seguir, e não foram poucos.
Estava a conduzir um Mercedes, atras de mim um Corsa à frente um Matiz.
Apercebi-me que para aquela pessoa, era aquele um camelo que por ter um Mercedes estava a bater no carro da frente e no de trás, só porque sim, porque tinha um Mercedes.
Estava a sofrer do mesmo tipo de julgamento que eu próprio fiz tantas vezes ( se calhar ainda faço, involuntariamente ), quando via alguém que conduzia um carro cujo preço me obrigaria a trabalhar anos e anos consecutivos exclusivamente só para o comprar, fazer alguma manobra que ia contra aquilo que alguém com carros inferiores não conseguia fazer (ou se calhar conseguia mas como o carro não era tão XPTO o foco não era tão grande).
A mais velha em pânico, e o palerma do Mercedes decide sair do carro, começa a confrontar a "população", primeiro a senhora do comentário, disse-lhe algo do género, "A senhora por acaso conhece-me de algum lado para estar a falar comigo dessa maneira?", ela, "nem quero conhecer", eu,"Então não fale comigo sff", nisto aparece o galo do poleiro e por azar dono do Corsa, "o profissional não consegue estacionar o carro. ", Discuti com ele de uma forma assertiva que quase me deixou orgulhoso, "...vou chamar a polícia" dizia, e eu "força", a multidão vibrava e a mais velha chorava.
Momento de lucidez, calo-me e tento sair dali, ao som da sinfonia dos sensores de estacionamento e do coro do ajuntamento feito em minha Homenagem.
Carro estacionado,  altura de enfrentar a justiça popular. Encho o peito de ar, pego na mais velha e seguimos caminho.
À minha espera a dona do Matiz (O do Corsa nem vê-lo), senhora de meia-idade, com tamanho suficiente para me obrigar a estar atento a movimento bruscos.
"Riscou-me o carro..." diz-me, e eu "Peço desculpa, como quer resolver a situação?..." "Deixe lá, o carro já é velho, logo falo com o meu marido mas deixe lá..." "tem a certeza ?..." disse-lhe eu, "Sim, deixa lá...",  WTF ...... Tanta merda para isto ? Vai um gajo preparado para a guerra, e o primeiro adversário é uma senhora com uma atitude destas???!!!! Pode ser que a coisa ainda se componha.
Agora a multidão e o do Corsa, preparo-me, com algum receio (medinho)  admito. O do Corsa nem vê-lo (menos mal) a população olha mas não diz nada, porreiro só falta acalmar a mais velha.
A demonstração correu bem, ela acalmou e eu continuei orgulhoso dela e de mim. Aproveitei para explicar-lhe a ela e a mim que não devemos julgar ninguém antes de conhecer e não devemos criar imagens sem conhecimento da realidade. Não conseguimos mudar os outros, mas nós podemos mudar.
Acho que lhe mostrei também que devemos assumir os nossos erros e prepararmo-nos para enfrentar as consequências, venham elas com justiça e educação.
 
Já agora, o Mercedes não é meu, é emprestado como diz a mais nova.
 
Ahhhhhh, o do Corsa lá apareceu, passei por ele algumas vezes, provavelmente não me reconheceu, eu não estava ao volante do Mercedes e estava vestido pior que ele. Ainda bem que não fui de fato e gravata.
 
Astronauta

 
 

 

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